Assim como Bolsonaro, ficaram em silêncio os quatro oficiais-generais das Forças Armadas que tiveram de apresentar-se para depoimento na Polícia Federal sobre a tentativa de golpe deflagrada com o quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023.
Essa investigação já inclui como prova o vídeo da reunião de julho de 2022, em que Bolsonaro discutiu com todo o seu ministério o que fazer diante da mais que provável vitória de Lula na eleição presidencial de outubro daquele ano, três meses apenas depois da reunião.
Pela primeira vez uma coisa como essa acontecia, não só em função da patente desses oficiais-generais como em função de seus cargos no primeiro escalão do governo Bolsonaro – o General Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; o General Braga Neto, chefe do Gabinete Civil e depois Ministro da Defesa; o General Paulo Sergio Nogueira, Ministro da Defesa, e o Almirante Almir Garnier, Comandante da Marinha. Quando o inquérito policial chegar ao fim, os quatro poderão ser denunciados criminalmente pelo Ministério Público e julgados como réus de crimes contra a segurança nacional.
Isso não é nada bom para Bolsonaro, a começar pelo simples fato de quatro oficiais-generais das Forças Armadas serem intimados a comparecer à polícia para prestar depoimento sobre fatos criminosos. Pior ainda é tê-los visto ficar em silêncio.
Outro poderoso convocado para depor, o civil Waldemar Costa Neto, Presidente nacional do PL, o partido de Bolsonaro, também estava disposto a ficar em silêncio, mas na hora decidiu falar e falou por mais de três horas, porém foi evasivo e decepcionante, segundo a PF, e nada disse de importante.
A diferença de comportamento entre os depoentes da semana – uns falando, como Waldemar e o ex-Ministro da Justiça Anderson Torres, e outros calando, como os generais e o almirante – mostra a decomposição da unidade e da “lealdade” bolsonaristas, como aliás aconteceu com o tenente-coronel Mauro Cid, que além de falar tinha o vídeo da reunião ministerial.
Waldemar tenta sair de fininho da lista de futuros réus no processo-crime do golpe e com isso tem em vista dois objetivos maiores: primeiro, manter-se na presidência do PL e no controle da montanha de dinheiro dos fundos partidário e eleitoral do partido; segundo, manter o PL fora de qualquer responsabilidade pelo golpe, o que poderia acarretar a cassação de seu registro na Justiça Eleitoral e o instantâneo desaparecimento de suas verbas milionárias.
Para demonstrar bom comportamento perante a Justiça Eleitoral, Valdemar já mandou suspender o pagamento do salário mensal de 40 mil reais do general Braga Neto como encarregado do setor de logística do partido. À medida que o cerco se estreitar em torno de Bolsonaro, o salário dele no PL, no mínimo os 40 mil de Braga Neto, também poderá ser cortado?
No segundo escalão do governo Bolsonaro, muitos de seus antigos auxiliares imediatos, civis e militares, foram também chamados a depor na quinta-feira, e entre eles o ex-assessor para assuntos internacionais, Felipe Martins, que está preso preventivamente e era muito mais importante que Mauro Cid, como contato direto com a organização internacional da extrema direita.
Nesse segundo escalão já surgiram, segundo um dos investigadores da PF, acenos de delação premiada, de iniciativa de um depoente. Se um já está acenando, outros poderão fazer o mesmo, tal como fez o caninamente fiel Mauro Cid, que cuidava de coisas tão íntimas como jóias, relógios Rolex e cartões de vacinação falsificados.
Uma última má notícia para Bolsonaro numa semana tão ruim foi que o governador bolsonarista do Rio, Claudio Castro, anunciou que também não vai comparecer ao comício de domingo na Avenida Paulista.
(*) Por José Augusto Ribeiro – jornalista e escritor, é colunista do Jornal Brasil Popular com a coluna semanal “De olho no mundo”. Publicou a trilogia A Era Vargas (2001); De Tiradentes a Tancredo, uma história das Constituições do Brasil (1987); Nossos Direitos na Nova Constituição (1988); e Curitiba, a Revolução Ecológica (1993); A História da Petrobrás (2023). Em 1979, realizou, com Neila Tavares, o curta-metragem Agosto 24, sobre a morte do presidente Vargas.