Brasília amanhece com estátua de Ogum depredada. Desde a inauguração do espaço, em 2000, imagens dos 16 orixás têm sido agredidas. Os ataques são comuns e, muitas vezes, por intolerância religiosa. No ano-novo de 2015, vândalos incendiaram imagem de Oxalá
No início da noite da quinta-feira (26), a estátua de Ogum, na Praça dos Orixás, na Prainha, situada às margens do Lago Paranoá, ao lado da Ponte Honestino Guimarães foi encontrada destruída. A imagem foi derrubada do pedestal e desfeita em cinzas. Sua cabeça foi arrancada e pendurada em uma das árvores próximas.
Na manhã desta sexta (27), lideranças dos povos tradicionais de matriz africana se reuniram no local para um ato contra o racismo, denunciando os sucessivos ataques às imagens da Praça dos Orixás, ocorridos desde a sua inauguração, em 2000. Também exigiram das autoridades providências para revitalização do espaço: uma luta que já dura mais de 10 anos.
Bartolomeu Rodrigues, secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Ilka Teodoro, administradora do Plano Piloto, estiveram presentes. Mãe Baiana, uma das principais lideranças do candomblé em Brasília e coordenadora de Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa do Governo do Distrito Federal (GDF), também participou da atividade.
O secretário se comprometeu a revitalizar a Prainha e a Administração Regional do Plano Piloto emitiu uma nota de repúdio, assumindo o mesmo compromisso e, ao mesmo tempo, lamentando o ato de violência. “A Administração Regional reforça seu compromisso com a preservação dos espaços culturais na cidade e informa que já está tomando as devidas providências para restauração do local, incluindo a reposição das imagens, e para impedir que estes atos de vandalismo e intolerância religiosa se repitam”, diz o texto.
Para Márcia Gilda Moreira Cosme, diretora da Secretaria de Raça e Sexualidade do Sinpro-DF, o vandalismo contra a estátua de Ogum não reflete intolerância religiosa, e sim, o racismo religioso e estrutural. “São resquícios de uma sociedade escravocrata, que tentou embranquecer o País e, nesse processo, estabelecer o cristianismo como religião oficial”, pontua a diretora.
“Embora sejamos um país laico, hoje, com as representações políticas que temos – racistas, violentas e preconceituosas –, seus seguidores se sentem empoderados a cometer esses atos de violência, como a invasão de terreiros e destruição de imagens”, finaliza.
A Prainha foi declarada patrimônio imaterial do DF, em 2018, por decisão unânime do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal (Condepac). É inadmissível que ataques como esse continuem acontecendo sem que o governo garanta a manutenção, a segurança e os devidos cuidados com o espaço.
Mais do que nunca, é preciso reforçar os programas de educação para as relações étnico-raciais, em consonância com a Lei nº 10.639 de 2003, que altera o artigo 26-A da LDB e estabelece o ensino da cultura e história africana nas escolas, de forma transversal. Tal medida é fundamental para desmitificar as tradições de matriz africana e ampliar a compreensão da importância da ancestralidade negra na construção do Brasil.
Do Sinpro-DF/com edição do JBP