Hoje, o futebol brasileiro, grande paixão de Nelson Rodrigues, está a depender de um único e escasso craque…e, deprimente, ele joga no Paris Saint Germain, é ou não é “complexo de vira-latas”?
Nada mais chato que um jogo de futebol sem torcidas. É tipo “sua ilusão entra em campo num estádio vazio”, na canção de Elza Soares, eterna diva de Garrincha, ironicamente “A Alegria do Povo“. Aliás, há sim: recorrendo a Nelson Rodrigues, hoje temos – em plena pandemia – o Brasileirão da CBF e da Globo, o Campeonato Brasileiro de Futebol, sem torcida, sem bandeira, na geral. Um campeonato sem noção, pra alegrar – ou não – cartolas, além da Rede Globo de Televisão e cumprir o calendário de 2020 – e o contrato milionário (ou mercenário).
Confesso que sou um brasileiro comum, apaixonado por futebol, samba e cachaça. Do Corinthians, do PT e do Lula. E, católico convicto sem muito fanatismo. Mas, curioso de nascença e fé, assisti ao “Dois Papas”, filme de Fernando Meirelles, com o Anthony Hoppkins e Jonathan Pryce e a jóia do roteiro é quando o Cardeal Jorge Bergóglio, inquirido pelo Santo Papa: “Você dança tango?”, arremata: “Sou argentino. Não existe argentino sem futebol e tango” . Eu sou brasileiro e me jogo em qualquer jogo, desde uma decisão da Copa ao futebol de botão, mesmo que seja Argentina e Alemanha, até uma pelada no campinho do “terrão”, no bairro, me fascina. Assisto até aquele Fluminense (do Nelson) contra o Palmeiras, do Bozo, uma pelada, sem torcida, com DJ(disque jóquei) e juiz do War…é mole?
Mas, voltando ao tema, nada mais chato que um jogo sem torcida, sem bandeira, num campeonato sem atração. Em tempos de pandemia, contra esse vírus invisível e “animal” matando a alegria do povo, só mesmo a globo pra tentar emplacar a “torcida virtual”, mais fraca que a de casa (só eu e minha pequena Valentina) e o caça-níquel do Cartola. Fico aqui a imaginar o Nelson Rodrigues – que detestava viajar – tentando descrever o seu Fluminense, de Fred, indo pro Maraca pra acompanhar um jogo para a *Manchete Esportiva: “Já na Avenida Brasil, comecei a sentir uma nostalgia e um exílio só comparáveis aos de Gonçalves Dias , de Casemiro de Abreu” (crônica da revista de 1955).
Nada contra o Fluminense de Nelson Rodrigues e Chico Buarque e tantos outros. Nem contra os “vira-latas” que torcem para o PSG de Neymar, mas, por que um campeonato sem torcida e sem bandeira, com craques (nem tanto) acometidos pelo vírus, colocando em risco a vida deles e dos outros? E qual a tesão de um jogo sem uma “alma viva” pra xingar o juiz de ladrão, levar faixa contra o “Mito”, sei lá o quê? Pior que isso, só mesmo um presidente sem partido, sem bandeira, sem noção (palmeirense vira-latas que veste até a camisa do rival Timão).
Posto isso, e parafraseando o Chico e o Vinícius de Moraes, eu vos digo: Prezado amigo Afonsinho, o Doutor Sócrates, entrariam em campo nestes tempos, com ou sem protocolo? Nenhuma faixa: Vidas de Atletas Importam? O futebol, e nem precisa ser do meu Corinthians, da Democracia, de Sócrates e Vladimir. O futebol, de Pelé, de Garrincha, que é a “alegria do povo” não pode ser tão banalizado assim. Pelo amor de Deus, não! Futebol e samba em tempos de pandemia, para mim, é um misto de “Pátria Arrasada”
O futebol, de Vinícius e João Saldanha, apaixonados pelo Botafogo, que transformou os dribles de Garricha em poesia, precisa voltar a ser respeitado como uma oração de fé do povo. Nada mais triste que um jogo sem torcidas. Aliás, pior que isso, só mesmo um campeonato de torcida virtual (DJ). O Futebol, alegria do povo, – assim como os gols do Rei Pelé, e os dribles do “Anjo das pernas tortas”, num clássico entre Santos e Botafogo é um espetáculo do povo e para o povo.
Então, neste domingo de “futebol na Globo Premier”, misturo poesia com cachaça, e acabo discutindo um futebol. Vou assistir ao Vasco com a enorme torcida de minha casa (mulher e filha) na quarentena, e torcer para que algum cartola sensato acabe com essa palhaçada. VIDAS DE ATLETAS IMPORTAM. Tenho Dito!